terça-feira, 5 de agosto de 2014

Blog do Magno: Filhos de agosto

Augusto Martins, Fátima Fonseca, Ana Regina, Gastão Cerquinha. Margarida Martins, Magno Martins, Denise Martins, Gastão Filho, Marcelo Martins (Boíba),  Maria José (Zeza)e Tarso
Reproduzo aqui crônica do meu irmão Magno Martins publicada no Blog do Magno. No texto, sobre os aniversariantes da família no mês de agosto, as palavras soam como notas musicais regidas pela maestria do escrever com arte, poesia e amor.

Filhos de Agosto

O misticismo que ronda o mês de agosto desde os tempos romanos provocou uma crendice popular que perdura até os dias atuais. Difamado por muitos, o oitavo mês do ano ficou conhecido como propício a acontecimento indesejáveis.

Alguns acreditam que os 31 longos dias do calendário gregoriano são sinônimo de insatisfação. Outros, porém, preferem crer que o mês reserva possibilidades de renovação e oportunidades. Você certamente já ouviu a crença popular de que agosto é o "mês do desgosto".

Apesar da origem da crendice não ser clara, muita gente acredita que essa época do ano é símbolo de mau agouro e de dias difíceis pela frente. Segundo o numerólogo Yubertson Miranda, o número 8 representa o resultado prático do que cada um produz durante a vida, por isso ele é tão radical. Pode expressar tanto fracasso quanto sucesso, fama ou escândalo.

Foi em agosto que Vargas suicidou-se. O número 8 se parece muito com o número 13: enquanto algumas pessoas o amam, outras detestam. Uns consideram um número de sorte, outros de azar.

Agosto para os meus pais, entretanto, é o mês da celebração à vida. Dos nove filhos, quatro vieram ao mundo no mês dos ventos. Sem televisão naquela época, meus pais namoravam muito em dezembro, para que o fruto deste amor se reproduzisse em vida nove meses depois, em agosto.

Foi nele que nasci no dia 23, sete anos depois de outra irmã, Maria José, servidora pública, e um ano depois de Marcelo, topógrafo, que comemorou seu aniversário ontem.


A caçula das irmãs, a jornalista Denise Martins, apagou as velinhas domingo passado. Para completar, ela ainda tem um filho que também berrou para o mundo em agosto.

Não somos filhos do desgosto, somos filhos do amor, de muito amor. Fomos criados sob a égide do amor, dado de graça, como os ventos de agosto. Aprendemos com os nossos pais que o amor não é regido pela lógica das trocas comerciais, mas como a rosa que floresce. Floresce, porque floresce. Amamos, porque fomos amados.

Na realidade, somos muitos felizes. Somos filhos do Sertão, terra árida, de ventos quentes, de gente braba também, mas de um canto belo: o canto de se ouvir, venha de onde vier, do sabiá, do acauã, do repentista. Nascemos grudados na terra, somos filhos do canto belo e da poesia. Temos alma poética, porque vimos de uma escola iluminada pela sabedoria dos nossos pais.

Já disse o poeta que o que a memória ama fica eterno. O mundo que se reflete dentro da gente foi pintado com palavras de sabedoria ensinadas pela minha mãe Margarida, a mãe Dó, de personalidade forte, que casou em dezembro e em dezembro se fertilizou para num ato de amor nos procriar e nos dar a vida em agosto.

Somos filhos de agosto, mas não somos filhos do desgosto. Quem na vida aprendeu a amar e ser amado aprendeu também a amar a simplicidade, como tão simples era a minha mãe e tão dócil é o meu pai ainda em vida, com 92 anos. Não temos desgosto como o agosto sugere porque amamos a vida.

Amamos a beleza, a poesia, as coisas que dão alegria, a natureza, a reverência pela vida, os mistérios. Amamos a Deus. É por isso mesmo que toda vez que abrimos os olhos, as janelas do mundo se abrem para nós.

Se nossos pais nos deram a dádiva de soprar quatro vezes as velinhas em agosto que recordemos Rubem Alves, o grande poeta e pensador que nos deixou recentemente:

“A celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte”.

Escrito por Magno Martins, às 06h18

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