segunda-feira, 20 de junho de 2011

São João de Pernambuco:Grade de programação foi feita pela Secretaria de Cultura e Fundarpe, em parceria com as prefeituras do interior. Valor total do apoio é de R$ 5 milhões

São João de verdade é feito com música de sanfona, viola, coco pisado, forrós, quadrilhas, bacamarteiros, canjica e toda culinária do milho, fogueira e gente espalhada pelas cidades. Também pelos sítios e terreiros de comunidades tradicionais que sempre fizeram sua festa sem muita produção, mas com originalidade de sobra. O Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e da Fundarpe, aposta num São João tradicional e descentralizado, que chegue à população das 12 Regiões de Desenvolvimento do Estado, ao mesmo tempo em que promova artistas independentes que têm sua estética musical formada a partir das matrizes do forró, gênero que abriga dezenas de ritmos e que é a base da música e da dança do São João.


No formato deste ano estão pelo menos 253 artistas espalhados por palcos de 29 municípios do estado, totalizando mais de 400 apresentações. Além dos nomes que comporão as grades das festividades de cada município, a Secretaria de Cultura e Fundarpe apoiam eventos especiais, alguns consagrados, como o São João da Casa da Rabeca e a Roda de Sanfona do Espaço Cultural Alberto da Cunha Melo; outros que são novidade, como o primeiro ano do projeto Pipoco no São João da Mata Norte. Cerca de R$ 5 milhões são investidos na festa.Mais do que centrado num único tema, o São João de Pernambuco foca num conceito que gira em torno da valorização do pé-de-serra e todas as danças e músicas juninas. “O pernambucano do século é Luiz Gonzaga. Precisamos cada vez mais investir na produção que traduza e consolide o caminho começado por ele. Gonzaga cantou tudo, a natureza, o amor, a culinária, o sertão, a sociedade, a política, os costumes. Depois, tem o fato da nossa produção artística nesse segmento ser uma das mais ricas do Brasil, o que se prova pela produção dos nossos compositores, poetas, cantores e cantoras, sanfoneiros, que são referência para todo país. Essa produção é nossa riqueza e tem que ser levada ao conhecimento geral”, afirma Fernando Duarte, secretário de Cultura de Pernambuco.



O secretário destaca ainda que o Governo, ao centrar seu apoio na interiorização da festa, fortalece a carreira dos artistas desse gênero que não são beneficiados pelas grandes produtoras. Estas já financiam o mercado das bandas de maior apelo comercial. Os holofotes da política pública devem estar direcionados para os artistas mais independentes e que não contam com o poder da mídia. Artistas que fazem traduções dos mesmos mestres populares, reinventam a tradição e as transmite para as próximas gerações. “É preciso haver o maravilhamento de um jovem pela cultura popular, senão, como ele vai poder gostar disso no futuro?”, coloca Duarte.

Segundo o secretário, são essas as bases que fundamentam o conceito do São João do Estado e é por isso que, no apoio à festa, estão na grade de programação apenas propostas que representam a escola chamada gonzagueana, seja na sua raiz ou usando esta como base para criações mais experimentais e vanguardistas. É necessário ressaltar que não há polos de animação, como nos anos anteriores. “Este ano a Secretaria de Cultura e a Fundarpe não estão coordenando nenhum polo. Estamos contribuindo com a construção do São João das prefeituras do interior de todo o estado”, ressalta o secretário.


PROGRAMAÇÃO – Para inovar no formato de construção da grade deste ano, a Secretaria de Cultura dialogou com as secretarias de cultura das prefeituras envolvidas. Apenas artistas da cultura de tradição da época junina foram oferecidos para compor as programações. Entre eles há desde nomes como Alceu Valença, que tem parte do seu cancioneiro dedicado aos ritmos do forró, até artistas consagrados do gênero como Jorge de Altinho, Santana, Alcymar Monteiro, Amelinha, Anastácia, Arlindo dos Oito Baixos, Assisão, Azulão, Cristina Amaral, Genaro, Novinho da Paraíba, Maciel Melo, Petrúcio Amorim, Flávio José, Terezinha do Acordeon, Walkyria. Também participam artistas e bandas que tem a música regional pernambucana na base de sua criação, como Quinteto Violado, Josildo Sá, Vates e Violas, Fim de Feira, Cláudio Rabeca, Orquestra Popular da Bomba do Hemetério e Spok Orquestra, que montou um show especial para o São João.


Os artistas aprovaram o formato. “Eu gostei muito dessa escolha, por que valoriza os artistas mais locais que já trabalham durante o ano todo na batalha do forró. Nós rodamos todo ano pelos municípios mais distantes, então não faria sentido que logo no São João ficássemos de fora, sem espaço para tocar”, diz Josildo Sá.


Além dos artistas ou bandas que estarão nos palcos de 29 municípios, a Secult-PE e a Fundarpe também estão dando apoio a projetos especiais. No São João da Casa da Rabeca (Cidade Tabajara, em Olinda) serão quatro dias de forró, de 23 a 26 de junho. No São João do Pipoco, que acontece de 23 a 28 de junho, o objetivo é reascender a tradição do São João nos sítios e terreiros. A festa vai acontecer em Aliança, Glória de Goitá, Lagoa de Itaenga, Lagoa do Carro, Itaquitinga, Carpina e Condado. Uma opção para os que querem curtir a época sem a badalação dos grandes arraiais.


O Governo oferece os artistas que considera importantes para a cultura do São João e, em contrapartida, as prefeituras fornecem toda a infraestrutura para os shows, como palco, som e luz. A parceria na confecção da programação aconteceu com as prefeituras de Carpina, Serra Talhada, Mirandiba, Agrestina, Pesqueira, Palmares, Tracunhaém, Belém do São Francisco, Iati, Canhotinho, Santa Maria da Boa Vista, Exu, Camocim, Bonito, São Lourenço, João Alfredo, Carnaíba, Bom Conselho, Serra Talhada, Santa Cruz da Baixa Verde, Lagoa do Carro, Catende, Aliança, Tacaratu, Araripina, Limoeiro, Timbaúba, Afogados de Ingazeira e Parnamirim.


“Foi gratificante esse formato, pois pudemos atestar a satisfação do artista que nunca havia conseguido entrar na programação de certas cidades. E o mais interessante é que muitas vezes as prefeituras queriam contratar esses artistas da tradição do São João, mas também não tinham condição de fazer”, pontua Fernando Duarte. Na opinião do secretário, a construção compartilhada da grade de programação consolida uma parceria importante do Governo do Estado com as prefeituras, dando mais importância às cidades que tradicionalmente realizam a festa, mas que nem sempre tiveram a preocupação de discutir sobre o processo da Cultura.


“Durante todo esse governo, principalmente agora, a gente está valorizando a cultura popular, as coisas de Pernambuco. Construímos essa programação em parceria e Carnaíba está feliz por dar espaço às expressões desses artistas. Esse São João está sendo a expressão máxima da cultura popular, é o caminho que queremos seguir”, depõe Anchieta Patriota, prefeito da cidade de Carnaíba. “Pra gente foi muito bom. Carpina faz um São João grande, bonito, muita gente prestigia. Então necessitamos dessa parceria com o Governo, e que venham as bandas de pé-de-serra. Conseguimos esse ano botar mais artistas populares e da tradição nordestina que nos anos anteriores”, diz Mônica Bione, secretária de Cultura de Carpina.


FUTURO – Os resultados do novo formato do São João, experimentados esse ano, serão considerados para as próximas edições. A intenção é que, além do entretenimento, as cidades recebam palestras, seminários e rodas de conversas. “O objetivo é chegar a mais municípios, seja através de apoio a festas já existentes, a grupos e brincadeiras tradicionais ou através do pagamento de cachês para uma composição coletiva das grades, através da discussão com as prefeituras. Percebemos que assim estamos mais perto de conseguir expandir a teia cultural para que lugares e artistas nunca antes notados, comecem a ser vistos, visitados, apreciados”, explica Duarte.


Fonte: Portal Pernambuco Nação Cultural


Texto: Michelle Assumpção

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